Pagamento
Atraso no seguro-defeso leva angústia aos pescadores
Categoria se reuniu nesta quinta para traçar ações a fim de normalizar o pagamento do benefício; até agora apenas 60 receberam de um total estimado de 600 trabalhadores artesanais
Paulo Rossi -
Atualizada às 19h25
O clima é de indignação e de angústia entre os pescadores da Colônia Z-3, da Barra e da Balsa, em Pelotas.
Se já não bastasse a escassez da última safra - com redes praticamente vazias e nenhuma chance de guardar economias -, agora o problema é com o pagamento do seguro-defeso. Dos cerca de 600 trabalhadores artesanais que encaminharam a documentação para acessar o benefício, pouco mais de 60 conseguiram receber o valor equivalente a um salário mínimo. Os demais não têm data certa para colocar a primeira das quatro parcelas no bolso.
A preocupação, portanto, se alastra entre as famílias. A pilha de contas vencidas não para de crescer. Na tarde desta quinta-feira (6), a comunidade se reuniu em frente ao Sindicato dos Pescadores da Z-3, para traçar as ações que serão desencadeadas daqui para frente. Ao se manifestar ao microfone e enumerar todas as datas de conversação e de entrega de documentos ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o presidente do Sindicato, Nilmar da Conceição, adiantou: "Vamos ter que partir pra ocupação, sim. Vamos ter que ir pra lá, sem baderna, mas a população precisa saber o que está acontecendo com a nossa comunidade", afirmou, em tom de desabafo.
Sem alternativa
O sentimento é de desamparo. Na grande maioria das famílias, a renda vem unicamente da pesca, proibida até o final de setembro no estuário da Lagoa dos Patos. O seguro-defeso é imprescindível, principalmente, se considerado o cenário de crise financeira, agravada por mais um ano sem camarão.
"A gente não tem outro serviço. Não tem outra renda. Só se compra a comida e as contas vão ficando", resume a pescadora Laureci Vieira Rosa, 48. E mostra as contas de água, de luz e do plano de saúde acumuladas há dois meses sem pagar.
É um drama que ganha força entre as ruas da Z-3, onde os moradores veem cada vez mais de perto o risco de terem o fornecimento de água e de energia elétrica cortado.
A aposentada Mariluza Castro de Oliveira, 67, já recorreu a empréstimo para pagar as dívidas da família. Resultado: com o desconto em folha, a aposentadoria encolheu para cerca de R$ 500,00. As pendências, entretanto, não deixam de se acumular. O caderninho, nas últimas páginas, mostra o histórico dos meses em que ela - assim como grande parte dos moradores - comprou fiado no minimercado.
O último pagamento foi em 31 de março. De lá para cá, as anotações crescem e o valor salta a cada dia. Nesta quinta-feira (6), a dívida chegava a R$ 2.988,04. "É uma tristeza. Quando a gente receber as parcelas do defeso, mal vai dar pra pagar o que se deve", lamenta. E enumera a lista de preocupações com a quitação das contas de luz e de farmácia.
Cenário regional
A angústia que tira o sono dos trabalhadores artesanais de Pelotas se repete em outras colônias de pescadores da Zona Sul. Os municípios de Rio Grande, São Lourenço e São José do Norte também registram a falta de pagamento.
O que diz o governo federal
O coordenador do Escritório Federal de Pesca e Aquicultura no Rio Grande do Sul, Gilmar Coelho, garante que, independentemente da origem do problema, o governo buscará rápida solução. "Já fiz contato com o INSS, em Brasília, hoje (nesta quinta) e estamos buscando identificar a causa. É apenas uma questão de ajuste para que eles possam receber."
Gilmar Coelho não apresentou data exata para o pagamento, mas chegou a falar em "próximos dias". O coordenador também fez questão de lembrar que o processo ainda é de transição, já que o Ministério da Pesca foi extinto. Hoje o setor está vinculado ao Ministério da Indústria e Comércio. O encarregado de realizar a análise dos dados repassados pelos pescadores, entretanto, é o INSS - destacou.
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